Há dias!

Tantas vezes pensei que nunca mais me poderia sentir só e embrulhado numa estranha e difícil tristeza. Tantas vezes eu acreditei na gargalhada, na vontade de correr, na força para conseguir viver, ser feliz e não ter medo.
Hoje, porque há dias assim, sinto-me completamente vazio, não encontro a gargalhada, não me apetece correr e, não sei como deixei escapar a força.
Ontem os meus pais conseguiram falar com o Gonçalo e, de forma surpreendente, repetindo um discurso que lhe ditavam ao lado, quase em duas vozes, o meu filho disse "A minha mãe manda dizer, a ti vó e a quem quiser saber que eu vou passar os meus anos com ela, o Natal e a passagem de ano com o meu pai. Manda dizer que vai escrever isso ao Juiz!". Quando a minha mãe me contou senti-me inundado de uma estranha mágoa. Como se atreve a vida a permitir que uma criança que eu amo esteja longe de mim por mais, por muito mais do que um ano? É meu filho...preciso dele, ele precisa de mim! Que dirá o Tribunal a esta arrogância, a este atrevimento? Nada mais irrita do que a ignorância e esta, esta é mesmo muito atrevida! Não estive com o meu filho no seu 8º aniversário, não vou estar com ele no 9º aniversário? A vida não é uma brincadeira! A vida é uma coisa séria que merece respeito!
Temo muito por mim, pelos meus sentimentos, por aquilo que sou e serei no futuro. Temo muito por esta sensação de mágoa que, todos os dias tento arrancar e deixar de lado.
Arrogante! Tão arrogante! Um dia...a arrogância ainda afoga, ainda vai magoar, ainda vai fazer chorar e eu, eu que todos os dias me tento livrar da mágoa, nesse dia vou conseguir viver depois de ter sobrevivido!
Saudades de ti Gonçalo, muitas, tantas...
Que falta senti de ti ontem à noite quando me sentei, sozinho no sofá e me apeteceu ter-te no colo e ouvir-te falar sem parar.